Você já disse, autoritariamente, que sabia escrever cuidadosamente?
Talvez lentamente, mas ainda sim acertadamente. Realmente, parece um pouco
estranho falar usando tantos advérbios. Porém, infelizmente, é algo tão
corriqueiro que provavelmente nem percebemos isso. Mas fique tranquilo: certamente
é consertável, desde que entenda perfeitamente.
Hoje vamos conhecer um pouco sobre os Advérbios e como eles podem
matar a sua escrita.
Então, vamos começar pelo começo. Vale lembrar que não vou
me aprofundar muito no assunto. Assim sendo, termine de ler o post e vai caçar
uma gramática pra estudar, hein.
Advérbios são palavras invariáveis
que exprimem circunstâncias e modificam o sentido de verbos, adjetivos e dos
próprios advérbios. Eles são divididos em: de lugar, tempo, modo, afirmação,
negação, dúvida, intensidade, exclusão, inclusão e ordem. Ufa.
Que tal ver uns exemplos pra isso ficar mais claro?
- Lugar: “— Riku, ali vende Toddynho?”
- Tempo: “— O Riku vai pagar uma rodada de Toddynho pra gente depois.”
- Modo: “O Vong se sente melhor tomando Toddynho.”
- Afirmação: “— Sim, é claro que o Riku vai pagar a rodada de Toddynho.”
- Negação: O Riku não queria pagar uma rodada de Toddynho.
- Dúvida: “— Talvez vocês possam me ajudar a pagar, que tal?”
- Intensidade: “— Tu é muito mão de vaca, hein.”
- Exclusão: “— Só hoje, gente. É pedir demais?”
- Inclusão: “— Certeza que vai vir com esse papo amanhã também.”
- Ordem: “— Quero meu Toddynho. Depois a gente conversa.”
Perceberam que essas palavras em
negrito sempre estão perto de algum verbo, adjetivo, advérbio ou, em alguns
casos, um substantivo? No primeiro exemplo, “ali” está restringindo o verbo “vender”.
No exemplo de exclusão, o “só” modifica outro advérbio, o “hoje”.
Agora tente formular alguma
dessas frases sem os advérbios. Meio complicado, não? Pois então, vamos tentar
com um exemplo diferente.
“—
Eu não vou pagar, caramba! — gritou Riku, furiosamente.”
Será que é possível escrever isso
sem usar um advérbio? Será que eu não estou sendo redundante? Pra isso, façamos
um exercício mental. Qual o sentimento que essa frase te passa?
“Eu não vou pagar, caramba!”
Alegria? Tristeza? Medo? Fome? Não,
ela te passa raiva, fúria. Isso, você está começando a
entender.
Toda a sentença foi construída
justamente para que cumprisse seu papel de transmitir um sentimento de raiva,
então colocar “furiosamente” no final
é como dizer que as coisas sobem pra cima e descem pra baixo. É
redundante e você faz isso, pode procurar na sua novel. Mas calma, tem um caso
aceitável – e mesmo assim tente evitá-lo.
“É
claro que você vai! — ameaçou Tany."
“Bom”, você pode estar se
perguntando, “qual o problema com essa frase? Nós vemos isso todo o tempo, em
livros famosos, outros nem tão famosos assim, você está certo. Porém, agora é
que vem o Jump of the cat: isso pode, aos poucos, tornar seus diálogos
extremamente pobres.
Quando você pode utilizar uma só
palavra depois da descrição para exprimir uma sensação, fica muito mais difícil
articular um diálogo com esse mesmo propósito, entende? É muito mais fácil
colocar um assustadoramente,
presunçosamente, redundantemente, rapidamente do que escrever uma frase que
passe a sensação de ser assustador, presunçoso, redundante e rápido. E isso é
um erro gravíssimo, porque o diálogo é uma parte essencial da escrita.
Ultimamente estamos recebendo
novels em que os personagens deixam de ter personalidade própria, os diálogos
deles são praticamente os mesmos. Eles não expressam o que são, não expressam
sentimentos ou sensações, apenas falam de um jeito robótico e plano. Na vida
real, todas as pessoas tem um jeito particular de falar, seja com sotaque, gírias
ou até falta delas. Pessoas de faixas etárias diferentes falam de jeitos
diferentes, como também as de faixa etária parecida podem falar de modo
diferente também – tudo depende de onde ela viveu, como cresceu, etc. Repare só
como um diálogo simples pode te remeter à origem de uma pessoa.
“— Sei não, mano, essa p**** tá estranha. Os nego vão vir atrás de
nóis, tô falando pra tu.”
Não precisei colocar nenhum medrosamente, porque isso está
evidente. Não precisei falar que ele conviveu com pessoas do subúrbio, porque
isso está evidente também. Esse é o grande ponto, porque é justamente aqui que
as coisas ficam mais complicadas. Os advérbios podem complicar a sua vida e a
nossa também, porque, como eu falei, vira e remexe aparecem personagens mais
genéricos – e até podem não ser tão genéricos, mas os diálogos deixam isso escancarado.
Tomem cuidado com isso. Vocês
sabem como seu personagem falou e, se não sabem ainda como passar isso para o
papel, vão aprender. Usar esse tipo de recurso é mais fácil, mas retarda o
progresso, de certa forma. Se vocês sabem mesmo o que estão fazendo, sabem também escrever um diálogo muito bom e que transmita exatamente o que precisam para
aquele momento.
Você pode pensar nos advérbios
como sendo a pena do Dumbo e você sendo o próprio elefante – foi mal se o
exemplo te ofendeu. Ele precisou da pena para começar a voar, mas a magia
não estava nela: estava nele.
Fica aqui meu agradecimento e o
trecho do livro Sobre a Escrita, do Stephen King – quem será que pegou o
trocadilho? — em que esse post foi baseado. É só clicar para a imagem se expandir. Dúvidas? Questionamentos? Comenta
aí, vai, é rapidinho.
bom texto vlw
ResponderExcluirNossa, pra ser sincero isso é algo q eu nunca parei pra reparar no meu texto. Queria saber do Riku agora se eu costumo usar isso.
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