A razão dessa postagem existir é porque, pela décima vez, recebemos novamente obras com certo grau de redundância. Em um consenso geral de opinião da Equipe, percebemos que não sobrou nenhuma outra alternativa além de encarar de frente esse problema e tentar romper com esse hábito costumeiro do habitat natural do site.
E se quiser levar em conta os fatos reais da história passada para não repetir os mesmos erros de novo em uma perspectiva futura, já aviso antecipadamente que essa postagem pode ser de grande auxílio nos momentos de revisão, assim como no processo para moldar um estilo de escrita eficaz.
Sem firulas: mente calma, texto claro.
UM ESTILO SIMPLES PARA UM ROMANCE LIGHT
Especialmente para as light novels, escrever com clareza quase sempre significa escrever com simplicidade. Mas isso não significa que seu texto deva ser sem-sal, porque a simplicidade permite variações. A utilização das figuras de linguagem, de sarcasmo, ironia e certa dose de dramaticidade deixam qualquer narração mais interessante e, quando na medida certa, complementam bastante a experiência do leitor. Mas lembre-se que isso não diz respeito ao enredo, mas à narração. Ou seja, um estilo simples é aquele que conduz os eventos de maneira clara, sejam eles dramáticos, românticos, felizes ou nojentos.
Um bom texto é aquele que passa a mensagem de maneira concisa, não aquele que você é obrigado a ler diversas vezes até entender, devido à construção bagunçada ou escolha infeliz de palavras. Na verdade, escrever um texto que tenha floreios é bem mais trabalhosos do que escrever um texto simples. Perceba que o estilo refinado dá foco no conteúdo a ser transmitido (uma contextualização, um sentimento, uma ação) e não chama atenção para a forma pela qual isso acontece, como nos poemas parnasianos, em que a forma era mais importante que o conteúdo.
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigadaE triste, e triste e fatigado eu vinha.Tinhas a alma de sonhos povoada,E a alma de sonhos povoada eu tinha...E paramos de súbito na estradaDa vida: longos anos, presa à minhaA tua mão, a vista deslumbradaTive da luz que teu olhar continha.Hoje, segues de novo... Na partidaNem o pranto os teus olhos umedece,Nem te comove a dor da despedida.E eu, solitário, volto a face, e tremo,Vendo o teu vulto que desapareceNa extrema curva do caminho extremo.
- (Bilac, Olavo. Poesias, Sarças de fogo, 1888.)
Esse texto é bastante pomposo, não? Isso porque o escritor não adequou o estilo ao conteúdo. Melhor dizendo: ele quis fazer um bolo em uma jarra de suco. Ele realmente o fez, mas o resultado do bolo chama mais atenção por ter o formato de uma jarra do que por aparentar estar gostoso.
Quem escreve somente com a intenção de impressionar o leitor, raramente alcança seu objetivo. Todavia, aquele que escreve com a intenção de mostrar um novo ponto de vista ou expressar-se sinceramente, é o ferona que normalmente consegue destaque. Trocando em miúdos: tentar parecer inteligente só faz piorar as coisas.
Até me escondo de novels desse jeito.
SEJAMOS TODOS BREVES - OU CONCISOS?
Primeiro, para que seu texto não seja repetitivo, ele precisa ser conciso. Porém, antes disso, vamos esclarecer uma dúvida comum: brevidade é diferente de concisão. O primeiro diz respeito à quantidade de material disponível. O segundo, à qualidade.
Um texto breve é aquele que, como pode imaginar, tem pouco o que dizer - poucas páginas, poucos parágrafos. Já um texto conciso consegue reunir, em poucas palavras, um grande volume de ideias, de maneira coesa e coerente. Mas ser breve nem sempre é possível: caso sua história tenha muita coisa a explorar, realmente isso não deve ser resumido a poucas páginas com narração acelerada.
O que é sempre possível, independente da complexidade da trama, é a concisão. Ser conciso é apresentar os pontos de maneira breve, sem rodeios, mas ainda dando importância às questões mais relevantes da trama. No caso de romances policiais, por exemplo, a história precisa de tempo para que a tensão cresça exponencialmente e alcance seu clímax. Mas perceba que o que move a trama são as ações: visitas à cena do crime, interrogatórios, pensamentos, viradas de enredo; não as descrições gigantes e/ou repetitivas sobre o quanto o detetive era bom naquilo. Independente do tamanho do seu texto, ele ainda pode ser conciso .
E quando o texto não apresenta essa concisão? Bem, quanto mais dela faltar, maior será a chance do leitor desistir da obra. É uma relação inversa: para que o leitor leve menos tempo para compreender o texto, mais tempo o escritor deve levar para criá-lo e o inverso também é verdadeiro.
Por isso que é fácil identificar um texto escrito sem planejamento:
ele fala muito, mas não fala nada.
E para o seu texto apresentar concisão? Meu velho, não tenha dó de riscar adjetivos desnecessários, advérbios incoerentes, parágrafos expositivos, páginas monótonas e o que mais você achar de repetitivo. Mete a caneta sem piedade. Retire as expressões clichês e diminua a carga de palavras: no presente momento é simplesmente... agora.
Se quiser fugir do romance, pegue a poesia. Com exceção de poemas épicos, a maioria deles trabalha com poucas palavras em poucas linhas e, mesmo assim, conseguem ter uma carga emocional grande. Veja esse haicai do escritor brasileiro Carlos Seabra:
gota no vidro
um rosto na janela
olhar perdido
Repare como o poeta evoca imagens e te faz sentir a solidão, imaginar uma cena que pode ter visto ou presenciado e, assim, passar uma gama de sentimentos. Mas o melhor é: usando só nove palavras.
Como você deve ter notado, precisamos de mais tempo e esforço para escrever de forma concisa do que para criar um texto todo enrolado. Vai demorar até chegar na versão final, mas quando chegar, ela estará mais elegante do que nunca.
ENROLAÇÃO NAS PEQUENAS COISAS:
TAUTOLOGIA E PLEONASMO
Certo, agora que as senhoras e senhores já entenderam que virar um rocambole narrativo não é nada legal, vamos finalizar o entendimento com essas duas formas de redundância e seus perigos: a tautologia e o pleonasmo.
Na campo da linguagem, a tautologia é o excesso de palavras para definir uma ideia, como dividir em duas metades e conclusão final. Se você vai dividir em dois, serão metades. E se é a conclusão, claramente já é a parte final.
Já o pleonasmo não é somente a repetição de uma ideia, mas sim sua elaboração exagerada que vai além do necessário. Por exemplo:
- Conviver junto com a família: Somente "conviver com a família" é necessário, afinal, conviver com alguém já transmite a ideia de ser algo em conjunto.
- Já não há mais necessidade de brigar: Dizer somente que "não há mais necessidade" ou "Já não há necessidade de brigar" seria suficiente.
Porém, muitos pleonasmos e tautologias são comumente utilizadas por nós. É interessante evitá-los, pois são uma barreira na língua escrita e falada. Uma amostra deles está presente na introdução dessa postagem. Então, será que você aprendeu e já consegue identificar todos os vícios?
A penny for your thoughts.
Vong...pode confessar, blz?
ResponderExcluirVocê está stalkeando minha novel! Só assim é possível criar um post tão interessante em meu momento de lapidação. kkkkk
Uma curiosidade, também é válido manter o texto conciso com o conteúdo que o faça buscar informações transcritas/metáforas/teorias na internet? (Em suma, referências. )
Ex: Code geass com a mitologia céltica.
Não interferem na compreensão do texto, mas fornece informações intrigantes a quem se permitir ser o Houtarou (se você pesquisar encontrará Hyouka, um simples exemplo) da coisa ou tornar-se fã.
https://youtu.be/l04_GGlr3BI <---- Parabains
~Aqua-sama
Olá, Aqua! Não olhe para trás, estou regulando a câmera.
ExcluirBem, levando em consideração que a monotonia e os clichês são parte do que deve ser riscado para tornar um texto conciso, colocar elementos que podem fazer o leitor se interessar mais pela história pode funcionar. Só tome cuidado com a maneira de colocar isso, para não ficar algo muito óbvio: comparar seu personagem a outro, dizer que a situação parece um anime; são coisas que podem ser evitadas. Mas, por exemplo, em Steins;Gate, o John Titor (a teoria da internet) aparece e, de certa forma, faz parte da trama. Você pode utilizar também lendas, metáforas, para fazer uma associação. Por exemplo, Rei Leão é uma metáfora de Hamlet.
Obrigado pelo comentário (e por ele ser tão positivo). Caso tenha mais algum questionamento, é só comentar. Até breve!
Realmente muito interessante!
ResponderExcluirParabéns pelo post.
Obrigado, Erik!
ExcluirSempre ao dispor.