O drama é o gênero conhecido por fazer pessoas chorarem igual crianças. Todavia, não somente de lágrimas se sustenta uma narrativa ou um arco dramático. Obras como Sangatsu no Lion, Violet Evergarden e Koe no Katachi apresentam diferentes personagens e objetivos, mas todos eles têm alguns pontos em comum pelos quais podemos traçar um panorama geral a respeito dessa categoria de gêneros narrativos.
Você já sabe como criar um personagem complexo e como criar um conflito interessante. Agora vamos aplicar esse conhecimento na prática: tá na hora de aprender alguns conceitos fundamentais de qualquer narrativa que pretenda fazer emocionar.
Porque drama não é só gente chorando na chuva.
O primeiro passo para entender uma narrativa de drama é compreender o que motiva o personagem e a relação disso com seu objetivo. Lembrando a postagem sobre complexidade, sabemos que objetivo é, primeiramente, um produto da motivação. Assim, para que um personagem apresente um arco essencialmente dramático e profundo, esses dois tem que apontar para direções opostas. Vamos com um exemplo para facilitar as coisas (e fica mais um aviso para ir logo ler a postagem!)
O objetivo de Violet é entender os sentimentos.
A motivação de Violet é ter recebido uma última ordem de seu major.
A crença escondida de Violet é de que ela é somente uma arma e uma ferramenta de matar.
A origem da crença escondida de Violet, assim como seu passado, ainda é desconhecido; entretanto, temos eventos traumáticos em seu resgate e em sua vida posterior (como uma pessoa destinada a matar para servir ao exército).
Agora vamos dar uma olhada um pouco mais atenta. Perceba que é esperado que a história caminhe para uma situação em que Violet caminhará e alcançará seu objetivo: entender os sentimentos. Porém, a origem dela é totalmente diferente disso; não só não entendia os sentimentos, como quase não os possuía, expressava ou via utilidade neles, fazendo dela quase uma máquina. Em Koe no Katachi, teríamos algo parecido para:
Objetivo de Shoya: reconciliar-se com Shoko. (+)
Motivação de Shoya: desejo de restaurar o mal provocado. (+)
Crença de Shoya: somente causa sofrimento a si e aos outros. (-)
Origem da Crença: praticar e sofrer bullying, desenvolvendo transtornos, o fez se isolar de todos. (-)
Para reconciliar-nos com alguém, é preciso que estejamos dispostos a deixar nossos preconceitos de lado e aceitar o erro. Entretanto, a origem da crença do personagem aponta justamente para uma direção em que ele deve se isolar de todos. O objetivo e a motivação dele apontam para um sentido positivo, em direção ao final esperado.
Aqui, nós geramos conflitos baseados em emoções internas, independente de sua origem. Não importa se esse conflito foi gerado por forças externas, internas ou metafísicas; ele resultará em consequências relevantes dentro da cabeça do personagem. Esse será o foco em uma narrativa dramática: o que está acontecendo com aquela pessoa, como resultado de algum gatilho do meio (interno ou externo), até que ela alcance seu objetivo. Assim, a gente começa a perceber que, para um personagem passar por um arco tocante, ele também precisa apresentar certo grau de complexidade. Se não, como ele terá uma origem da crença ou uma motivação que nos convença de que seu sentimento é verdadeiro na situação proporcionada pelo conflito no qual ele se encontra? Anote bem:
O objetivo de Violet é entender os sentimentos.
A motivação de Violet é ter recebido uma última ordem de seu major.
A crença escondida de Violet é de que ela é somente uma arma e uma ferramenta de matar.
A origem da crença escondida de Violet, assim como seu passado, ainda é desconhecido; entretanto, temos eventos traumáticos em seu resgate e em sua vida posterior (como uma pessoa destinada a matar para servir ao exército).
Agora vamos dar uma olhada um pouco mais atenta. Perceba que é esperado que a história caminhe para uma situação em que Violet caminhará e alcançará seu objetivo: entender os sentimentos. Porém, a origem dela é totalmente diferente disso; não só não entendia os sentimentos, como quase não os possuía, expressava ou via utilidade neles, fazendo dela quase uma máquina. Em Koe no Katachi, teríamos algo parecido para:
Objetivo de Shoya: reconciliar-se com Shoko. (+)
Motivação de Shoya: desejo de restaurar o mal provocado. (+)
Crença de Shoya: somente causa sofrimento a si e aos outros. (-)
Origem da Crença: praticar e sofrer bullying, desenvolvendo transtornos, o fez se isolar de todos. (-)
Para reconciliar-nos com alguém, é preciso que estejamos dispostos a deixar nossos preconceitos de lado e aceitar o erro. Entretanto, a origem da crença do personagem aponta justamente para uma direção em que ele deve se isolar de todos. O objetivo e a motivação dele apontam para um sentido positivo, em direção ao final esperado.
Aqui, nós geramos conflitos baseados em emoções internas, independente de sua origem. Não importa se esse conflito foi gerado por forças externas, internas ou metafísicas; ele resultará em consequências relevantes dentro da cabeça do personagem. Esse será o foco em uma narrativa dramática: o que está acontecendo com aquela pessoa, como resultado de algum gatilho do meio (interno ou externo), até que ela alcance seu objetivo. Assim, a gente começa a perceber que, para um personagem passar por um arco tocante, ele também precisa apresentar certo grau de complexidade. Se não, como ele terá uma origem da crença ou uma motivação que nos convença de que seu sentimento é verdadeiro na situação proporcionada pelo conflito no qual ele se encontra? Anote bem:
Não existe emoção sem algum grau de reconhecimento.
Perceba que eu não disse "drama." A gente está falando sobre emoções. Seu filme, anime ou livro preferidos provavelmente são aqueles com os quais você apresenta um maior grau de identificação. Pode ser porque o personagem principal tem características marcantes suas. Porque você concorda com a visão de mundo. Porque foi importante para você em um momento complicado da sua vida. Assim, sempre que você relembra esses fatos, as emoções que você presenciava vêm junto também: é aí que a gente começa a entrar na parte legal.
Então, como fazer para lidar com alguém dividido internamente, envolvido em situações totalmente distintas e se vendo perdido em meio aos seus próprios pensamentos? Como alguém consegue se ver de maneira tão negativa e, ao mesmo tempo, desejar algo positivo? Por que seu personagem está fazendo o que faz, isso não é hipocrisia? Olhe para a origem da crença dele! Quando ele deixou de ser esse vilãozinho série B e passou para um herói de história em quadrinhos? Onde ele se encaixa nessa história toda? O quanto ele está disposto a sacrificar para fazer o que ele quer?
Quem ele é?
E, ainda, quem é você, leitor?
E é agora em que temos uma explosão interna: a crise entre suas ações que levará a uma purificação.
catarse
2. A aceitação da mudança: o momento de catarse
Catarse é uma palavra vinda do grego que significa, entre outras adaptações, purificação por descarga emocional. Momentos catárticos costumam ser o ápice de um arco ou narrativa dramáticos porque é justamente ali em que vemos o personagem expressar o que ele pensa da maneira mais sincera.
A catarse é o resultado de uma constante elevação de carga emocional, seja ela positiva ou não. Se lembra que já conversamos sobre o papel das emoções e dos conflitos na construção do personagem? É agora que as coisas ficam visíveis pra valer. Não importa mais de onde os conflitos do personagem vieram, como eles são, como se desenvolveram; quais são as emoções ou a origem delas. Em um momento de catarse, apenas importa uma coisa: como tudo isso será mostrado e fará sentido dentro da proposta da história.
Em Sangatsu no Lion, um dos momentos catárticos de Kiriyama ocorre após uma vitória importante em sua categoria de jogador. Isso é o que podemos chamar de gatilho catártico. É o que faz o seu personagem explodir, em termos breves. Após vencer um oponente que não desejava vencer e reencontrá-lo, observando sua reação, tudo o que ele vinha passando converge para aquele evento, como se fosse uma consequência: sua história com seu transtorno, as consequências de vencer, a necessidade de pensar o motivo para viver (e para jogar) e fazer o mau com a única coisa que ele faz da vida, que é jogar shogi — fazendo com que seu momento de catarse faça sentido, pois um dos elementos essenciais da história (Kiriyama jogar shogi profissionalmente desde criança) também é um dos causadores de sua catarse (o que é ser um profissional e quais são as consequências de derrotar quem era pior? + outra série de fatores).
Quando Kiriyama explode, vemos não somente um personagem correndo e gritando. Em seu diálogo, ele expõe tudo o que sente utilizando como base seu gatilho. É quando nós mesmos refletimos sobre a situação atual do personagem, levando em consideração tudo o que ele passou e conseguimos entender os motivos para aquele evento ser tão marcante e ganhar tanta notoriedade. É quando pensamos "é, ele não estava aguentando mais por causa de x, y e z.", "está realmente sendo difícil para ela enfrentar a morte do Major" ou "Ele está se esforçando! Por que ninguém dá ouvidos pro Shoya?".
Com o fim da explosão catártica, teremos um momento de calmaria após a tempestade. É agora que o personagem reorganizará suas crenças e valores em prol de continuar — ou não — em busca de seu objetivo. Rei Kiriyama, após passar por sua explosão, nota que toda a sua vida fora regida por shogi e que, se ele continuar se martirizando por vencer, estará jogando a si mesmo no lixo pois é assim que o caminho de um profissional é feito. Não se trata de ter dó ou piedade, mas sim de entender que esse foi o caminho que ele escolheu e que deseja trilhar até quando puder. Ele não teve escolha a não ser seguir o shogi, mas se os outros tiveram e não aguentam as consequências, por que ainda continuam? Para o personagem, neste momento, sua vida pessoal e profissional são a mesma. Logo, ele precisa vencer, sobreviver, para continuar vivendo.
Catarse é uma palavra vinda do grego que significa, entre outras adaptações, purificação por descarga emocional. Momentos catárticos costumam ser o ápice de um arco ou narrativa dramáticos porque é justamente ali em que vemos o personagem expressar o que ele pensa da maneira mais sincera.
A catarse é o resultado de uma constante elevação de carga emocional, seja ela positiva ou não. Se lembra que já conversamos sobre o papel das emoções e dos conflitos na construção do personagem? É agora que as coisas ficam visíveis pra valer. Não importa mais de onde os conflitos do personagem vieram, como eles são, como se desenvolveram; quais são as emoções ou a origem delas. Em um momento de catarse, apenas importa uma coisa: como tudo isso será mostrado e fará sentido dentro da proposta da história.
Em Sangatsu no Lion, um dos momentos catárticos de Kiriyama ocorre após uma vitória importante em sua categoria de jogador. Isso é o que podemos chamar de gatilho catártico. É o que faz o seu personagem explodir, em termos breves. Após vencer um oponente que não desejava vencer e reencontrá-lo, observando sua reação, tudo o que ele vinha passando converge para aquele evento, como se fosse uma consequência: sua história com seu transtorno, as consequências de vencer, a necessidade de pensar o motivo para viver (e para jogar) e fazer o mau com a única coisa que ele faz da vida, que é jogar shogi — fazendo com que seu momento de catarse faça sentido, pois um dos elementos essenciais da história (Kiriyama jogar shogi profissionalmente desde criança) também é um dos causadores de sua catarse (o que é ser um profissional e quais são as consequências de derrotar quem era pior? + outra série de fatores).
Quando Kiriyama explode, vemos não somente um personagem correndo e gritando. Em seu diálogo, ele expõe tudo o que sente utilizando como base seu gatilho. É quando nós mesmos refletimos sobre a situação atual do personagem, levando em consideração tudo o que ele passou e conseguimos entender os motivos para aquele evento ser tão marcante e ganhar tanta notoriedade. É quando pensamos "é, ele não estava aguentando mais por causa de x, y e z.", "está realmente sendo difícil para ela enfrentar a morte do Major" ou "Ele está se esforçando! Por que ninguém dá ouvidos pro Shoya?".
Com o fim da explosão catártica, teremos um momento de calmaria após a tempestade. É agora que o personagem reorganizará suas crenças e valores em prol de continuar — ou não — em busca de seu objetivo. Rei Kiriyama, após passar por sua explosão, nota que toda a sua vida fora regida por shogi e que, se ele continuar se martirizando por vencer, estará jogando a si mesmo no lixo pois é assim que o caminho de um profissional é feito. Não se trata de ter dó ou piedade, mas sim de entender que esse foi o caminho que ele escolheu e que deseja trilhar até quando puder. Ele não teve escolha a não ser seguir o shogi, mas se os outros tiveram e não aguentam as consequências, por que ainda continuam? Para o personagem, neste momento, sua vida pessoal e profissional são a mesma. Logo, ele precisa vencer, sobreviver, para continuar vivendo.
reconciliação
3. A recompensa pela jornada: um novo futuro
Pronto, a poeira abaixou. Em primeiro lugar, entenda que temos o início de uma nova sequência de acontecimentos com a adição da visão de mundo conquistada depois da catarse. Tudo o que seu personagem passou até aquele momento culminou na catarse, o que tornou seus traumas visíveis e apontou em uma nova direção. Esse novo direcionamento é adicionado à complexidade do personagem, formando alguém diferente de quem era antes do gatilho, mas que permanece com sua essência inalterada. Pense no fim da catarse como o início de uma nova fase após derrotar o chefe: você agora possui o aprendizado e, como símbolo disso, novas armas e equipamentos que serão somados ao seu personagem para que ele fique mais forte e continue a seguir sua trilha. Se você não derrotasse sua catarse, não conseguiria sua espada nova — seu novo direcionamento — e não avançaria na própria história. Caso tenha ficado com alguma dúvida, recomendamos a leitura da postagem sobre conflitos para maiores esclarecimentos.
Em segundo plano, essa nova direção da história também representa uma recompensa para os leitores. Vemos o personagem aprender com si mesmo e renascer uma nova pessoa, talvez mais perto de quem ele buscava ser. É quando entendemos que todas aquelas vitórias e derrotas valeram a pena e cada uma delas teve um significado diferente para a construção desse novo/velho personagem. É por isso que se dá a captura dos espectadores após a catarse: é nesse momento em que a gente dá aquela respirada funda e pensa "Tudo bem. O que nos espera agora?". É um senso de recompensa por ver o crescimento, mas o desejo de contemplar o que ainda virá agora que o personagem está diferente e lidará de tal maneira com seus novos (e antigos) conflitos.
Afinal de contas, depois de chorar tanto ao se identificar com os dramas do personagem, até mesmo nós precisamos de um tempo para esboçar um sorriso e vislumbrar um novo futuro.
Dúvidas, questionamentos e complementações podem ser colocadas no campo dos comentários! Ele está aí desejoso de amorzinho só esperando por você. Não o decepcione, ferona!
Pronto, a poeira abaixou. Em primeiro lugar, entenda que temos o início de uma nova sequência de acontecimentos com a adição da visão de mundo conquistada depois da catarse. Tudo o que seu personagem passou até aquele momento culminou na catarse, o que tornou seus traumas visíveis e apontou em uma nova direção. Esse novo direcionamento é adicionado à complexidade do personagem, formando alguém diferente de quem era antes do gatilho, mas que permanece com sua essência inalterada. Pense no fim da catarse como o início de uma nova fase após derrotar o chefe: você agora possui o aprendizado e, como símbolo disso, novas armas e equipamentos que serão somados ao seu personagem para que ele fique mais forte e continue a seguir sua trilha. Se você não derrotasse sua catarse, não conseguiria sua espada nova — seu novo direcionamento — e não avançaria na própria história. Caso tenha ficado com alguma dúvida, recomendamos a leitura da postagem sobre conflitos para maiores esclarecimentos.
Em segundo plano, essa nova direção da história também representa uma recompensa para os leitores. Vemos o personagem aprender com si mesmo e renascer uma nova pessoa, talvez mais perto de quem ele buscava ser. É quando entendemos que todas aquelas vitórias e derrotas valeram a pena e cada uma delas teve um significado diferente para a construção desse novo/velho personagem. É por isso que se dá a captura dos espectadores após a catarse: é nesse momento em que a gente dá aquela respirada funda e pensa "Tudo bem. O que nos espera agora?". É um senso de recompensa por ver o crescimento, mas o desejo de contemplar o que ainda virá agora que o personagem está diferente e lidará de tal maneira com seus novos (e antigos) conflitos.
Afinal de contas, depois de chorar tanto ao se identificar com os dramas do personagem, até mesmo nós precisamos de um tempo para esboçar um sorriso e vislumbrar um novo futuro.
Dúvidas, questionamentos e complementações podem ser colocadas no campo dos comentários! Ele está aí desejoso de amorzinho só esperando por você. Não o decepcione, ferona!
Os comentários querem ficar tão quentinhos quanto meu chá.
A penny for your thoughts.