Em algum lugar dessa vida de autor, você já deve ter ouvido falar dos arquétipos narrativos. No contexto da escrita, podemos pensar que os arquétipos são figuras que carregam certos padrões de ação, consolidados na cultura mundial por serem amplamente utilizados. Por exemplo: sair em uma aventura, fazer companheiros e derrotar o grande mal são ações tradicionalmente executadas pelo Herói — um dos arquétipos mais famosos.
Nessa postagem, vamos pensar sobre o uso de arquétipos nas narrativas de ficção através das barbas brancas e dos sábios conselhos: é hora de conhecer um pouco mais sobre o Arquétipo do Mentor.
A função do mentor
Em linhas gerais, o mentor é a figura confiável, sábia e experiente que fornece conselhos úteis para alguém mais novo. Como um arquétipo narrativo, o mentor serve como um guia que auxilia no desenvolvimento do protagonista, ensinando-o lições importantes sobre a vida e/ou sobre alguma característica-chave da história (como uso de magias ou métodos mais eficientes de investigação). Porém, a característica mais marcante dos mentores é sua capacidade de se tornar menos útil com o passar do tempo.
Nenhum mentor deseja ter um aprendiz para sempre. Apesar de ser muito interessante trabalhar com a dinâmica de aprendizado, o mentor é uma pessoa diferente do protagonista. Ele passou por experiências específicas que o levaram a conclusões específicas — as quais o protagonista pode, ou não, concordar. Assim, não é papel do mentor passar todo seu conhecimento: mas fornecer bases para que o herói possa construir, ele mesmo, sua própria jornada.
Assim, o mentor pode tanto guiar o protagonista a nível emocional, físico ou intelectual. Ele está sempre tomando conta do protagonista, mesmo que as aparências digam o contrário: não importa a situação, ele colocará o bem-estar de seu aluno em primeiro lugar — podendo sacrificar sua profissão, sua moral ou sua vida para que o herói tenha alguma chance de continuar sua jornada.
Alias, vale ressaltar que o papel do mentor muda de acordo com o ponto de vista. Nós estamos tratando do mentor do protagonista, mas outros personagens também podem ter seus mentores próprios. Por isso, todos os arquétipos são funções: porque elas variam de acordo com o personagem que está sendo colocado em foco. Por exemplo, em Boku no Hero Academia, All Might é o mentor principal de Deku e Bakugou - mas ele não faz esse papel para o resto dos alunos.
Tipos de mentor
Existem muitos mentores diferentes por aí. Alguns te dão um sopapo se você não soltar a magia corretamente, outros vivem perguntando se você está bem, outros apenas ignoram sua existência e vão beber um hidromel na taverna. Vamos conhecer agora os quatro tipos principais de mentores (lembrando que isso não são caixinhas para você encaixar personagens, mas ideias gerais que você deve modificar do jeito que achar melhor). Os mentores podem ser agrupados em quatro grupos: os Mestres, os Sábios, os Conselheiros e os Parceiros.
Mestres
Os mentores-mestres geralmente são representados como figuras bem mais velhas que o protagonista — como aquele velhinho oriental com a barba branca arrastando pelo chão. A principal função dos mestres é ensinar o protagonista a desenvolver alguma habilidade, como Sakonji Urokodaki treina Tanjiro na respiração da água, em Demon Slayer; ou o Sr. Miyagi treina o jovem Daniel nos fundamentos do caratê, em Karate Kid.
Sábios
Mais velhos que o protagonista, mas não tanto quanto um mestre, os sábios estão mais preocupados em repassar seu conhecimento e estilo de vida. Assim, seus conselhos são sempre pautados no conhecimento prático que acumularam com as batalhas vencidas (e perdidas) de suas vidas. O Dragão Dormente, de Estrela Morta, é um bom exemplo de Mestre Sábio; assim como All Might em sua relação com Deku - que se confunde, também, com um mentor Conselheiro.
Conselheiros
Os conselheiros são aquelas pessoas sábias que sempre têm um uma reflexão que ilumina o caminho do protagonista. Sem intervir diretamente no treinamento de seus alunos, os conselheiros sempre estarão lá para ampará-los em momentos de confusão e necessidade. A palavra e a reflexão são as maiores armas dos Conselheiros, como o professor Takashi Hayashida, de Sangatsu no Lion, mostra muito bem.
Entretanto, é importante fazer uma ressalva aqui. Apesar de ser um mestre para a maioria dos alunos, ensinando-as no uso de suas habilidades, o professor Aizawa sempre está fornecendo conselhos úteis sobre a vida para Deku, Shinsou ou qualquer outro aluno que esteja sob sua proteção. Por isso, ele é um ótimo exemplo de como essas categorias se misturam e até se confundem: apesar de mestre, Aizawa também exerce função de um mestre Conselheiro.
Parceiros
Em decorrência de terem passado por desafios parecidos com os que o protagonista está enfrentando, os mestres-parceiros desenvolvem uma grande relação de amizade com seus alunos. Apoiando seus alunos por meios não-tão-convencionais, a experiência e a amizade que os une permitirá ao protagonista vencer os desafios que se colocarem à sua frente. Laurent Thierry, o Robin Hood loiro-francês-pegador de Great Pretender, pode ser considerado um mentor-parceiro para nosso querido Edamame.
E por hoje é só! Se quiser que continuemos conversando mais sobre arquétipos ou ainda tem alguma dúvida/questionamento/sugestão, use educadamente o campo dos comentários. Vejo vocês na próxima postagem!
Algo muito comum é autores pensarem em mentores como ferramentas descartáveis em vez de personagens. Muitas vezes são usados para explicar o mundo aos leitores e depois esquecidos para sempre. Seria muito legal ver como seus ensinamentos influenciam os personagens, e ainda mais legal transformar o mentor em um dos personagens principais, acompanhando o protagonista e o ajudando a colocar seus ensinamentos em prática.
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