Personagens são as peças centrais de qualquer narrativa. É neles e por meio deles que a história acontece. Independente se eles são homens-gato, peixes, chefes de Estado ou líderes religiosos, um fator específico é decisivo para personagens se tornarem mais reais e interessantes: a mudança. Nenhuma pessoa permanece a mesma por muito tempo — muito menos seus personagens, que passam por tanta coisa durante sua jornada particular.
Nesta postagem, vamos conversar sobre maneiras pelas quais os personagens podem mudar. Nem sempre para melhor, é claro.
Mudanças físicas
Uma maneira óbvia de impulsionar o desenvolvimento de um personagem é através de mudanças físicas — com ele ou com o ambiente no qual ele está. Para ilustrar esses exemplos, vamos pensar sobre a origem do Dr. Estranho e sobre a essência dos isekais.
Em Dr. Estranho, o neurocirurgião Dr. Stephen Strange sofre um acidente de carro e perde seu principal instrumento de trabalho: suas mãos. Acostumado com a fama, viciado no trabalho e fazendo da medicina seu mundo, Stephen Strange percebe que nunca mais poderá fazer o que mais sabe fazer de melhor. Que nunca mais poderá exercer a medicina. Portanto, que Stephen Strange morreu no dia em que perdeu o movimento de suas mãos. Agarrando-se na esperança de retornar à sua vida, Strange passa por humilhações e tentações até descobrir que sua realidade não era a única — e que um Doutor também pode salvar o multiverso.
No caso de Stephen, a perda do movimento de suas mãos foi um fator determinante para desenvolver seu personagem. Através desse evento, o personagem ganhou mais profundidade e foi desenvolvido como alguém mais próximo de um ser humano, revelando seus sofrimentos e medos. Pense em um músico que perdeu o braço. Em um artista que ficou cego. Em um escritor que não consegue mais articular as palavras. Que tipo de desenvolvimento poderá surgir?
Mas as mudanças físicas não precisam ser somente no corpo do personagem. Em isekais, por exemplo, as mudanças físicas também abrangem o mundo. Um novo mundo. Em Log Horizon, o protagonista é um dos vários jovens que subitamente se perceberam em uma realidade totalmente diferente da sua — mas estranhamente familiar. Regras, leis e normas sociais parecem ausentes; ao mesmo tempo em que as criaturas de seu jogo favorito parecem tão vivas quanto nunca. A partir dessa mudança de ambientes, conflitos surgem: quem tomará o poder? Como se adaptar a essa nova realidade? Como viemos parar aqui? Qual nosso papel nisso tudo?
Mudanças emocionais e comportamentais
Além disso, os personagens também podem se desenvolver a partir de emoções e comportamentos. Mudanças em seu modo de enxergar e reagir ao mundo podem surgir a partir de mudanças biológicas, políticas, sociais ou situações completamente anormais. Neste aspecto, é importante pensar não somente em como o personagem mudou seu comportamento ou emoções, mas também como as outras pessoas reagiram a essa mudança.
Em Hai To Gensou no Grimgar, Haruhiro passa a viver uma realidade brutal. Matando outras criaturas para sobreviver e vendo vários de seus companheiros morrerem em sua frente, o personagem vai lentamente modificando seu comportamento e seu modo de ver o mundo. O líder-por-acaso começa a tomar as rédeas das situações — mesmo que, muitas vezes, acredite não ser capaz de fazer muita coisa — e passa a encarar essa nova realidade com outros olhos.
Ao desenvolver essas mudanças, pense sobre a linguagem corporal, ações e escolhas de palavras nos diálogos dos personagens. Uma pessoa brincalhona que está se tornando mais fechada pode falar cada vez menos, cruzar mais os braços e deixar de acompanhar os amigos em festas. Esses pequenos sinais fazem toda a diferença para o leitor se perguntar: Por que este personagem está agindo desta maneira?
Mudanças econômicas
Dinheiro é uma coisa importante no nosso mundo. E em muitos outros, também. Pessoas se casam com gente da realeza; imigrantes aceitam trabalhos em empresas suspeitas e ricaços perdem todo o dinheiro da noite pro dia. Conflitos envolvendo dinheiro são interessantes porque podem ser crescentes (com o personagem aspirando possuir algo); decrescentes (com o personagem perdendo algo) ou tensionadas (com o personagem em um fluxo constante de perdas e ganhos).
Mas como as mudanças financeiras podem afetar os personagens? Um personagem que é orgulhoso e se vangloria de sua riqueza pode se sentir envergonhado e nervoso com perdas financeiras. Já pessoas que não são materialistas podem levar numa boa e continuar seguindo a vida. Além disso, é possível estender essa ideia para outros personagens, relacionando-os com às perdas (tramaram um plano para deixar os ricaços sem nenhum tostão?) ou aos ganhos (um grupo se formou para roubar dos ricos e dar aos pobres?).
Histórias como Great Pretender, que revolvem em torno de dinheiro e poder, podem oferecer situações interessantes. Suspense, mistério, rivalidade e inveja são fatores comumente trabalhados nesse tipo de obra.
E por hoje é só! Continuaremos em breve com a segunda parte dessa dupla-postagem sobre ideias para desenvolvimento de personagens. Se tiver alguma dúvida, pode deixar aqui no campo dos comentários — ficaremos muito felizes com seu engajamento!
Eu estava precisando disso, Obrigado.
ResponderExcluirPor nada!
ExcluirAbraços.