A Filosofia da Composição é um ensaio escrito por Edgar Allan Poe que fala sobre planejamento narrativo, ou, citando a versão da qual li "em que o autor procura explicar uma teoria sobre como bons escritores escrevem quando eles escrevem bem". Você pode encontrar uma tradução do ensaio em português com facilidade ao procurar no google, recomendo a leitura completa, mas, se quiser entender de forma mais resumida e mastigada primeiro, confira a postagem de hoje.
Primeiramente, todos conhecemos Edgar Allan Poe, correto? Se você não souber quem ele é, ou souber, mas nunca tiver lido nada dele, recomendo começar com alguns contos e poemas de Poe, como O Corvo, O Barril de Amontilhado e O Gato Preto. Você pode encontrar uma tradução em português de todos facilmente com o google, pois já são domínio público.
Mas do que se trata A Filosofia da Composição? Segundo Poe, a composição de uma história deve ser feita a partir do final dela. Você deve começar a sua história a partir do fim, e todas as confusões e peripécias que seus personagens vão enfrentar devem ser baseadas no final que você quer apresentar para sua trama.
Nas próprias palavras dele:
Só tendo o epílogo constantemente em vista, poderemos dar a um enredo seu aspecto indispensável de consequência, ou causalidade, fazendo com que incidentes e, especialmente, o tom da obra, tendam para o desenvolvimento de sua intenção.
Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado.
Basicamente, você deve pensar primeiro no que você quer contar com aquela história antes de pensar em começos e meios, como você quer que a obra termine? Qual é a sua intenção ao contar ela? Tendo essa intenção definida, o que você quer que seu leitor sinta com a sua história? Que tom você quer que ela seja? Com essas perguntas respondidas, você pode começar a delimitar um caminho para atingir esse epílogo, esse final planejado para sua história.
E quais as etapas para isso? Primeiro, o formato. Sua história terá quantos arcos? Será curta, será longa, como será dividida?
Pensado isso, que tom sua história usará, esse tom se adequa ao tamanho da trama? Se adequa a forma que seus leitores irão ter acesso a história? Com o tom decidido, como você pode passar essa mensagem devidamente? Que jogos de linguagem você pode usar? Que imagem você quer que sua história crie na mente do leitor?
Pensado isso, você pode começar a delimitar como quer entregar o epílogo da sua trama, como você quer que o leitor se sinta? O que você pode usar para fazer com que o leitor se sinta dessa forma?
Poe não concordava que obras literárias deveriam ser lidas em mais de uma assentada, ou seja, histórias longas demais para serem terminadas de uma vez não eram ideais em sua visão. Isso porque, em sua concepção, os problemas do mundo atrapalhavam demais a imersão do leitor na trama.
Isso significa que você só pode usar essa técnica do ensaio dele em contos ou oneshots? Não. Você pode utilizar para os capítulos ou até para delimitar toda a história da sua obra, você pode pensar os arcos com essa perspectiva, começando da ideia do que você quer contar com aquele arco, começando por como ele deve terminar, para então pensar o caminho inverso.
Peguemos um capítulo por exemplo, se quisermos que ele termine deixando o leitor querendo amis, qual a condução que devemos dar ao leitor para chegar nesse impacto? O que deve acontecer para que o momento final seja marcante e o leitor termine o capítulo querendo ler o próximo logo em seguida? É só jogar um cliffhanger e pronto? Não. É só enfiar um plot twist carpado? Também não.
Como seus personagens terminarão o capítulo? O que os levou aquele ponto? Pense na linha de chegada, mas lembre-se de que você precisará criar todo o percurso até o fim.
Tal qual o Método Snowflake, que já falamos antes aqui no blog, esse é apenas uma forma de se planejar a narrativa, pode não ser a ideal para você ou pode ser o que vai finalmente fazer com que essas ideias saiam da sua cabeça, o importante mesmo é conseguir algo que faça com que você escreva e não trave com bloqueio criativo.
Recomendo a leitura completa do ensaio de Edgar Allan Poe, e sua tradução em português brasileiro, pois lá ele explica em detalhes todos os efeitos e como usou essa técnica para a criação de seu famoso poema, O Corvo. Você pode encontrar o ensaio completo disponível gratuitamente ao pesquisar por "Filosofia da Composição, Edgar Allan Poe".
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