— Oi, tudo bem? Como você tá. Fernanda
você vai bem?
— Hahahaha,
maravilhoso! Matem e consumam com as pessoas daqui,
moscas irritantes devem ser eliminadas. Essa cidade deve ser meu
reino agora, porque eu sou muito mal!
— Você, Pedro, conhece aquele cara? — Falo
com Pedro. — Aquele é o super bishounen novo
estudante do ensino médio, sabe Pedro? É, Pedro, é ele mesmo. — O Pedro
escutava.
Dentro das gavetas que, normalmente,
deveriam estar seladas com cinco tipos diferentes de fechaduras e correntes
para que as forças malignas não vazassem para fora, vários papéis flutuam no
ar, responsáveis pelas vozes infernais que ecoam pelo escritório, sem descanso.
As frases que saem desses papéis pareciam
impossíveis para que um mero humano compreendesse, mas foi em poucos segundos
que descubro a verdade daquelas frases. Eles tentam retirar parte da minha
inteligência e jogar no lixo. E o pior, quanto mais conseguem afetar minha
cabeça, mais aqueles diálogos parecem fazer sentido?
— Não, não, eu não
sou paga para isso, voltem pro inferno do qual vieram. Isso é trabalho deles.
Pego todos aqueles papéis que não me deixam
em paz e amasso todos de volta para a gaveta de onde vieram.
— Dessa vez eu vou ter certeza de que
nunca saiam daí.
Nenhum humano deveria ler tantos diálogos
ruins, nem mesmo os revisores... Talvez o Kyn. Mas algo
precisava ser feito pelo bem da saúde mental de todos.
Com todos os papéis dentro, vou até a mesa
da Tany e busco um
isqueiro que fica guardado em uma de suas gavetas. Já havia visto ela usar
diversas vezes, mas era especial, apenas servia para um trabalho. Queimar novels. E é isso que
ser feito.
Com aquelas chamas de puro ódio queimando
em minhas mãos, arremesso para dentro daquela gaveta e apenas respiro fundo
enquanto as vozes param de falar.
Sorte que a gaveta é de metal, mas, se
fosse de madeira, seria um sacrifício necessário.
— Eu acho que realmente deveria largar
esse emprego, ainda mais considerando o que acabou de acontecer.
Não consigo parar de olhar para a mensagem
no celular, a oportunidade de não precisar presenciar mais esses monstros da
literatura e ser realmente reconhecida.
Porém, quando estava prestes a sair, a
gaveta usada para aniquilar aquelas obras começa a brilhar com uma cor dourada,
piscando de segundos em segundos, como se tentasse chamar minha atenção.
— É só o que me falta. Bem, nada mais me
surpreende.
Sem nada a perder, abro aquela gaveta
novamente, e, em vez de estar apenas com os resquícios dos papéis, tem um
celular que apenas mostra um ícone de arquivo em sua tela para ser aberto.
— “Opa, se esses diálogos vazaram, peço
desculpa para quem tivesse aí na sala, ia cuidar deles quando desse, mais foi
chegando, chegando e chegando, e estava tão... Questionável que decidi lacrar
eles pelo bem da saúde mental de todos, mas, por mais que pareça impossível,
existem piores, acredite. E nós não somos os únicos que precisamos lidar com
isso diariamente, existem lugares com perigos que não me atreveria a chegar
perto sem proteção. Quero que fique com isso em mente caso pense que não há
salvação. Pelo menos, alguns evoluem, pense positivo”.
No momento que leio “existem piores”, é
como se um raio atravessasse meu corpo no meio. Não consigo acreditar nisso,
mas, ao mesmo tempo, sinto que é possível.
“Se achar que não pode piorar, posso te
most...”
— Não, obrigada.
Sem dar chance de ler mais, arremesso
aquele celular contra o lixo com força suficiente para que nunca mais ligasse.
— Se existem piores, devem existir muitas
equipes como o MLN que sofrem pela mesma coisa todos os dias, há realmente
sentido em continuar nesse ramo? — Sento no sofá e tento me acalmar um pouco
para pensar melhor.
— Mas deve haver um motivo ao menos para
continuarem a fazer isso, e, de qualquer maneira, não consigo sair desse lugar.
Mas eu vou com certeza reclamar por falta de segurança no ambiente de trabalho.