A Jornada de Natal da Célia - Parte 3

0

 


— Oi, tudo bem? Como você tá. Fernanda você vai bem? 

Hahahaha, maravilhoso! Matem e consumam com as pessoas daqui, moscas irritantes devem ser eliminadas. Essa cidade deve ser meu reino agora, porque eu sou muito mal! 

— Você, Pedro, conhece aquele cara? — Falo com Pedro. — Aquele é o super bishounen novo estudante do ensino médio, sabe Pedro? É, Pedro, é ele mesmo. — O Pedro escutava. 

Dentro das gavetas que, normalmente, deveriam estar seladas com cinco tipos diferentes de fechaduras e correntes para que as forças malignas não vazassem para fora, vários papéis flutuam no ar, responsáveis pelas vozes infernais que ecoam pelo escritório, sem descanso. 

As frases que saem desses papéis pareciam impossíveis para que um mero humano compreendesse, mas foi em poucos segundos que descubro a verdade daquelas frases. Eles tentam retirar parte da minha inteligência e jogar no lixo. E o pior, quanto mais conseguem afetar minha cabeça, mais aqueles diálogos parecem fazer sentido? 

Não, não, eu não sou paga para isso, voltem pro inferno do qual vieram. Isso é trabalho deles. 

Pego todos aqueles papéis que não me deixam em paz e amasso todos de volta para a gaveta de onde vieram.  

— Dessa vez eu vou ter certeza de que nunca saiam daí. 

Nenhum humano deveria ler tantos diálogos ruins, nem mesmo os revisores... Talvez o Kyn. Mas algo precisava ser feito pelo bem da saúde mental de todos. 

Com todos os papéis dentro, vou até a mesa da Tany e busco um isqueiro que fica guardado em uma de suas gavetas. Já havia visto ela usar diversas vezes, mas era especial, apenas servia para um trabalho. Queimar novels. E é isso que ser feito. 

Com aquelas chamas de puro ódio queimando em minhas mãos, arremesso para dentro daquela gaveta e apenas respiro fundo enquanto as vozes param de falar.

Sorte que a gaveta é de metal, mas, se fosse de madeira, seria um sacrifício necessário.

— Eu acho que realmente deveria largar esse emprego, ainda mais considerando o que acabou de acontecer.

Não consigo parar de olhar para a mensagem no celular, a oportunidade de não precisar presenciar mais esses monstros da literatura e ser realmente reconhecida.

Porém, quando estava prestes a sair, a gaveta usada para aniquilar aquelas obras começa a brilhar com uma cor dourada, piscando de segundos em segundos, como se tentasse chamar minha atenção.

— É só o que me falta. Bem, nada mais me surpreende.

Sem nada a perder, abro aquela gaveta novamente, e, em vez de estar apenas com os resquícios dos papéis, tem um celular que apenas mostra um ícone de arquivo em sua tela para ser aberto.

— “Opa, se esses diálogos vazaram, peço desculpa para quem tivesse aí na sala, ia cuidar deles quando desse, mais foi chegando, chegando e chegando, e estava tão... Questionável que decidi lacrar eles pelo bem da saúde mental de todos, mas, por mais que pareça impossível, existem piores, acredite. E nós não somos os únicos que precisamos lidar com isso diariamente, existem lugares com perigos que não me atreveria a chegar perto sem proteção. Quero que fique com isso em mente caso pense que não há salvação. Pelo menos, alguns evoluem, pense positivo”.

No momento que leio “existem piores”, é como se um raio atravessasse meu corpo no meio. Não consigo acreditar nisso, mas, ao mesmo tempo, sinto que é possível.

Se achar que não pode piorar, posso te most...

— Não, obrigada.

Sem dar chance de ler mais, arremesso aquele celular contra o lixo com força suficiente para que nunca mais ligasse.

— Se existem piores, devem existir muitas equipes como o MLN que sofrem pela mesma coisa todos os dias, há realmente sentido em continuar nesse ramo? — Sento no sofá e tento me acalmar um pouco para pensar melhor.

— Mas deve haver um motivo ao menos para continuarem a fazer isso, e, de qualquer maneira, não consigo sair desse lugar. Mas eu vou com certeza reclamar por falta de segurança no ambiente de trabalho.

Talvez você goste destas postagens

Nenhum comentário