Eu e meus amigos
O mundo da magia... um lugar onde você é livre para fazer suas escolhas.
Vamos lá. As reticências têm alguns usos clássicos:
a) marcam interrupção de algum discurso, seja fala ou pensamento;
b) marcam pausas típicas da fala;
c) marcam frases que se prolongam.
Você pode utilizar as reticências em qualquer uma dessas situações, mas existem duas categorias escondidas no meio de tudo isso: reticências para terminar frases e reticências para continuar frases. Mas qual dessas duas categorias o autor utilizou? Relendo o exemplo, percebemos que a frase inicial já está terminada. A segunda parte não é uma continuação direta da primeira, apesar de se referir a ela.
Quando a frase que vem depois das reticências (Um lugar onde você é livre para fazer suas escolhas) não é uma continuação direta da primeira frase (O mundo da magia), a segunda frase começará com letra maiúscula. Porém, quando a frase seguinte for uma continuação da primeira, a segunda frase começará com letra minúscula. No nosso caso, o "um lugar" deveria se tornar "Um lugar", com letra maiúscula. Eu deixo para você pensar se o "bom", marcado em vermelho, também mudaria para maiúscula.
Agora repare nos nossos pontos de interrogação ao final da frase. Eles marcam a falta de motivo para criar vários parágrafos diferentes com uma única frase. Não existe impacto ou aparente necessidade narrativa, como marcar pausas dramáticas ou ideias difíceis de engolir de uma vez só. Apenas um erro na diagramação ou tentativa falha de parecer diferente.
Passando para o próximo parágrafo, vemos uma conjunção adversativa muito famosa: o Mas! Assim como as outras conjunções da família adversativa, o Mas expressa oposição. Ideias contrárias. Diferenças. Mas qual é a oposição que essa conjunção está expressando em nosso exemplo? A frase diz que, em menos de um ano, o jogo foi um sucesso; enquanto o parágrafo anterior não cita nada sobre as possibilidades de sucesso do jogo. Apenas que ele seria um desafio. Não existe contraste e, também, não existe motivo para pegar essa conjunção aqui.
Esses parágrafos iniciais não parecem chamar tanta atenção. Eles apenas descrevem alguns eventos que antecederam a história, como a construção de um jogo que, talvez, seja relevante para a história. O fato mais importante do primeiro parágrafo é: um jogo existe e foi criado. O fato mais importante do segundo parágrafo é: o protagonista morreu. Algum apelo emocional até aqui, ligado à morte desse personagem extremamente curioso sobre o qual não sabemos nada a respeito? Um fato importante? Um gancho? Algo diferente de todos os isekais que você já viu? Eu acredito que não.
O primeiro parágrafo é essencial para engajar o leitor. Ele é o primeiro contato real do leitor com sua história, com seu mundo, com suas ideias. Se esse primeiro contato não for bom, o que garante que o resto será? Se não houverem informações importantes, perguntas a serem respondidas ou ganchos de história, provavelmente ninguém continuará lendo sua novel. Não importa se você a considera o melhor texto já pensado ou que ela tenha o maior potencial do universo. Se não chama a atenção, ninguém lê.
Por último, mas não menos importante. Eu e meus amigos não gostamos nada dessa repetição.
A luz no fim do túnel
Nós conversaremos em breve sobre os usos e desusos da quebra da quarta-parede. Conversar com o leitor, quando bem feito, pode ter efeitos importantes sobre a narrativa. Quando apenas acontece, sendo jogada sem eira nem beira, você apenas tira a imersão do leitor e o lembra de que ele está lendo uma história. E, não, a gente não deve ter imaginado nada. Muito menos que você iria em direção à luz, já que muita gente diz exatamente para você não fazer isso quando está morrendo!
Agora, depois de uma transição brusca que sequer teve um ponto final, temos uma descrição constituída basicamente por um advérbio. Abrir os olhos dolorosamente não traz impacto nenhum. Esse é um exemplo de como descrições com potencial são simplesmente descartadas. Nesse momento, o ferona poderia ter optado por descrever as sensações do corpo do personagem principal, aproveitando a chance para descrever o ambiente também. A dor, que poderia ter dado abertura para descrever outras coisas, simplesmente foi deixada de lado.
Agora, apareceu uma mulher de cabelos cinza escuro e lisos, cuja descrição não a favoreceu em nada. Ah, tem mais! Um forte intenso tom de violeta em seus olhos. Não há impacto ou relevância aqui. Além de essas duas informações terem sido arremessadas ao leitor, elas simplesmente não estão conectadas. Diferente dos diálogos, que estão conectados até demais à descrição.
Marcados em vermelho, os diálogos desse texto são robóticos demais. Não têm pontuação correta para o padrão do My Light Novel, utilizando aspas no lugar de travessões (não façam isso ou serão reprovados automaticamente); fica impossível diferenciar o que é uma fala de um pensamento, já que tudo parece igual. E, além disso, o que é uma aparência "peculiar, bonitinha"? Eu prefiro não saber o que é, mas parece-me um jeito bastante peculiar de se referir à própria mãe.
- Primeiro, a primeira página
- Tipos de Narradores e como usá-los
- Apresentação de protagonista
- Dicas gerais sobre descrições
- Dicas gerais sobre diálogos
- Para vocês começarem a usar travessões
- Transições
- O problema dos advérbios
- Dicas Rápidas da Tany #4
- Revisando: Vírgulas #1
E ficamos por aqui hoje, pessoal! Aguardem até o mês que vem para a próxima vítima! Dúvidas, sugestões, observações, os comentários estão abertos! Sinta-se bem-vindo para participar do nosso servidor do discord também!
Oooopa! Aí, a página tem alguma aba dedicada a ensinar sobre roteiros? Eu tô pensando em algumas formas, mas nunca chego no que quero :(
ResponderExcluirJá que a pagina tem foco em light novels, não acho que eles vão postar algo relacionado a roteiros algum dia.
ExcluirMas, tenho esse artigo que acho que pode te ajudar:
https://www.aicinema.com.br/como-fazer-um-roteiro/
minha novel nn chega
ResponderExcluirÓtimas observações.
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