Evitando pequenas redundâncias na escrita

    Sempre batemos bastante na tecla de evitar repetições. Seja pronomes, palavras, sinônimos, evite que a sua história fique se repetindo, isso cansa ao leitor. Existe, ainda assim, um outro tipo de repetição de informação que cansa ao leitor e principalmente ao revisor e que muitos não percebem na hora de escrever.

    São pequenas redundâncias que temos durante a fala e a escrita mais casual que acabam nos pegando desprevenidos e criando hábitos que não devem passar para a escrita literária. São pequenas redundâncias, repetições de informação

    É normal que usemos várias expressões que não querem dizer nada ou enrolemos para passar a informação de fato enquanto conversamos normalmente, especialmente na fala, no entanto, na escrita, isso para de ser apenas um detalhe e precisa se tornar uma preocupação real. Coisas pequenas, como um "que" a mais, um "de fato que", "por motivo de", coisinhas que, normalmente, escrevemos sem perceber, mas que vão se acumulando e tomando espaço da frase.

    Também existe a falácia de que você precisa escrever a mais para dar um ar extra ao texto. No entanto, utilizar palavras ou expressões maiores não dá um ar chique ou formal a sua escrita, na maioria das vezes, você vai estar é cansando sua própria narrativa e transformando o ato de ler sua obra um fardo para o leitor.

    Existem pequenas palavras e expressões que já passam uma ideia completa ao leitor, mas você acaba repetindo, às vezes sem perceber, às vezes com medo de não ter ficado claro. Para isso, vou ilustrar com alguns exemplos:

A garota entrou no bar e sentou-se em uma cadeira perto do balcão para fazer seu pedido, estava com uma expressão preocupada no rosto:

— Me traz uma vodca, por favor.

O empregado do bar a encarou por um segundo, mas logo trouxe o que foi pedido.

    Existem pequenas coisas que podem ser retiradas aqui que tornarão o texto mais claro e menos repetitivo, vamos conferir pequenas alterações que são feitas durante a revisão:

A garota entrou no bar e sentou-se em uma cadeira perto do balcão para fazer seu pedido, tinha um rosto preocupado:

— Me traz uma vodca, por favor.

O empregado do bar a encarou por um segundo, mas logo trouxe o que foi pedido.

Vamos ver agora uma versão limpa, sem as marcações e riscados:

A garota entrou no bar e sentou-se perto do balcão, tinha um rosto preocupado:

— Me traz uma vodca, por favor.

O empregado a encarou por um segundo, mas logo trouxe o pedido.

    Note que, além de diminuirmos o tamanho do texto, deixamos a cena mais clara e tiramos as repetições óbvias. Se você informa que ela entrou no bar logo na primeira linha, por que repetir que o empregado era do bar? Isso é algo que qualquer um lendo já iria presumir. 

     Precisa mesmo dizer que ela se sentou em uma cadeira? Precisa mesmo repetir que fez o pedido sendo que o diálogo dela é mesmo o pedido? Se quisesse, poderia ainda complementar a cena retirando o "logo trouxe o pedido" para outra informação que desse detalhes mais interessantes da cena, como "saiu logo sem dizer nada" ou apenas um "logo colocou a garrafa a seu alcance".

     Olhe para a alteração em "trouxe o que foi pedido" que virou "trouxe o pedido". Houve uma mudança de sentido? O "que foi" era mesmo necessário nessa parte? São pequenas coisinhas que tornam o texto mais rápido e fluido para a leitura e ajudam a manter a atenção em sua obra por mais tempo. 

    O importante aqui é perceber como pequenas coisas fazem a diferença na hora da revisão.

Não adianta fazer cara feia, é hora de rever essas coisas na sua novel!

    Outro exemplo de repetição que passa despercebido para muitos autores:

— Estou feliz por terem vindo a essa reunião, mas antes de começarmos, eu gostaria de pedir um minuto de silêncio por nossa querida colega e amiga que nos deixou recentemente. 

Os presentes ficaram em silêncio, em respeito a jovem colega de classe que havia falecido.

    Vamos analisar o problema aqui.

    Quando você usa "que nos deixou recentemente" ou outra expressão como "que está em um lugar melhor", você dá a entender que a pessoa faleceu. Sendo assim, por que repetir que a pessoa faleceu na descrição abaixo?

    E mais, o diálogo já deixa claro que era uma amiga e colega dos presentes, por que repetir "a jovem colega de classe". A frase poderia muito bem acabar em "a jovem" que nada se perderia. 

    Um último exemplo, dessa vez só um diálogo:

— Eu sei que pisei na bola, mas isso não vai se repetir — disse, tentando se desculpar.

   A fala claramente traz uma tentativa de desculpa, por que você precisa explicar isso na descrição dela? Exageros nas descrições pós-dicendi são as mais comuns de se encontrar e corrigir. Você não precisa explicar qual a intenção dos seus personagens quando eles deixam isso claro no que falam, não precisa falar a todo instante como disseram ou colocar que disseram, nem sempre descrever o dicendi é necessário.

    Podem parecer coisas pequenas, mas, quanto mais você se policiar para corrigi-las, mais estará lotando seu texto de informações repetidas e cansando o leitor. É como se alguém estivesse martelando detalhes bestas na cabeça dele com frequência, como se alguém ficasse repetindo coisas que ele já sabe a todo momento, e quem gosta dessa sensação?

Ninguém gosta de ficar lendo uma prosa arrastada!

    Essas coisas são mais fáceis de serem pegas durante o processo de revisão. Mas isso não significa que você deva deixar tudo nas mãos do revisor. Quanto mais caprichado for o processo de revisão do autor, menos trabalho o revisor terá e poderá se focar em outras questões mais importantes para deixar a obra melhor. E quanto mais rápido a obra puder ser revisada sem perder a qualidade, mais rápida ela será publicada ou assim desejamos.

    Por isso sempre recomendo deixar o texto esfriar um pouco antes de fazer a primeira revisão. Dê um tempinho até que os pormenores da escrita saiam da sua mente, até que você não lembre mais que vírgula usou em que parágrafo. Quando retomar o texto, verá com mais clareza quantas pequenas redundâncias ou palavras desnecessárias está usando.

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3 comentários

  1. Nossa, esse é um texto muito bom, realmente auxilia e mostra pra gente até onde se estendem as redundâncias. Muitíssimo obrigado!

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  2. Tany mais uma vez abrindo meus olhos *-*

    começar a revisar turu dunuvu ;-;

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