Você está escrevendo aquele embate em que o personagem precisa enfrentar um monstro mundo poderoso. É a hora de explicar todos os efeitos do monstro. Você vai parar sua história por páginas a fio para nos explicar, em pormenores, cada poder, habilidade e fraqueza desse monstro?
Uma cena em que você quer explicar a situação política de dois países prestes a entrar em guerra, precisa de uma forma de tornar a explicação algo natural, que tal colocar dois personagens conversando? Mas o quanto eles vão conversar? E como vão conversar?
Hora de falarmos sobre exposição e como ela afeta a narrativa. Venha comigo no Leia Mais para podermos compreender melhor como explicar as coisas sem tornar a sua obra chata.
Nem sempre podemos nos dar ao luxo de mostrar em vez de contar. Há coisas que somente explicando ficará claro a sua mensagem, poderes, relações geográficas, políticas, hierárquicas, pessoais, etc. Certas coisas, só com a boa e velha exposição para fazer funcionar.
Não existe almoço grátis, muito menos na literatura. O tempo do leitor não é uma dádiva que você deveria considerar como sua no instante em que abre o word e começa a bater os dedos contra o teclado. É importante prender a atenção dele, e imprescindível que você torne a cena interessante. Não podemos ficar perdendo tempo explicando tudo nos mínimos detalhes. Vamos para a ação logo!
Só que, na vontade de chegar ao que interessa o mais rápido possível, você não percebe que deixou detalhes que tiram a coerência da sua história. Aquele detalhe, exato, aquele mesmo, que parece bobo, era na verdade fundamental para compreender a reviravolta que vinha na trama. Sem ele, parece que o autor tirou aquilo tudo de onde o sol não bate.
Mas tudo fazia sentido... na cabeça do autor, para o leitor, a história é outra. Então, como resolver isso? Como explicar em um nível que fique claro para quem nada conhece da trama ainda e que não pareça travar a leitura ao mesmo tempo?
Saber medir a exposição é complicado.
Alguns problemas frequentes presentes encontrados em exposição:
A explicação impessoal
Aquela voz onisciente vem do nada, explicando como funciona aquele determinado aspecto, como se, de repente, tivéssemos aberto a wikipédia do mundo naquele parágrafo. O ritmo da história muda, o estilo muda, o autor parece que quer algo mais técnico e menos natural. É como se você tivesse pausado o filme e trocado de canal para algum documentário chato.
Como lidar com esse problema?
Em vez de sair narrando a informação de forma mais técnica, pense na linguagem que você está usando na obra até agora. Seu narrador é em que perspectiva? Faz sentido um adolescente no ensino médio começar a explicar em muitos detalhes o funcionamento de um exército militar? Não dá. Coloque pequenos detalhes, use figuras de linguagem, saiba encaixar a explicação a voz que você escolheu para sua narrativa.
Diálogos ou monólogos exagerados
Levante a mão quem nunca pensou em colocar uma cena em uma sala de aula para poder explicar algum efeito ou conhecimento básico para os moradores daquele mundo e não para o leitor. Mas você precisa mesmo fazer esse capítulo ser só os personagens conversando sobre a situação do país? E por que eles estão explicando coisas que já sabem uns para os outros só para que o leitor compreenda? Aquela vizinha chata vai mesmo explicar pro protagonista que ele perdeu os pais em um acidente trágico e sem explicação até hoje? Não tem como.
Como lidar com esse problema?
Contexto. Sempre considere o contexto. Nem que você precise pensar em um contexto que torne aquela explicação natural, e não procure as respostas mais simples como "uma aula" ou "uma palestra", "treinamento", e afins. Quer colocar um rei e seu conselheiro para falar de um problema do reino? Tudo bem, mas por que eles estão conversando sobre isso? Dê um propósito para a sua cena, não torne ela apenas "a cena em que eu preciso explicar para o leitor sobre tal coisa", ela precisa de um motivo, de um objetivo que avance a trama.
Dê um motivo para as coisas precisarem ser explicadas. Quer um bom exemplo? Na segunda fase de Estrela Morta, temos um monólogo em que Brayan, o protagonista, chega a uma conclusão sobre o funcionamento dos poderes apresentados na trama até então. Essa explicação é feita de forma que ele, personagem, ajude o leitor a compreender a sua epifania quanto a determinado assunto. E o que motivou essa epifania? Ele de repente olhou para o céu e entendeu como tudo funciona? Claro que não, vá ler Estrela Morta para descobrir o que ele está falando e como.
Outro exemplo é em A Borboleta na Tormenta, temos um capítulo focado em fazer com que Júlia explique para Fatou sobre o que são fractais e como eles podem levar a possível morte do rapaz, no entanto... como ela fez isso? Não foi dando uma aula ou mostrando um vídeo do youtube, houve todo um contexto que levou para a existência e necessidade daquele capítulo. Lembre-se, seus personagens podem conversar sobre o assunto que você deseja explicar, desde que isso faça sentido na trama!
Seu personagem também precisa de motivos. Ele não vai começar a divagar sobre o cenário político do mundo só porque decidiu dar uma caminhada perto do riacho. Não, dê motivo. Ele viu um poder estranho, ficou pensando um tempo e finalmente compreendeu o que era aquilo? Ele fez um brainstorm com os demais colegas para compreender aquela aberração que apareceu na escola outro dia? São várias as formas de driblar a exposição chata, basta exercitar a criatividade.
Temos ainda Registros do Meta-Detetive, que conseguiu fazer um Capítulo Expositivo Obrigatório, você já conferiu para entender o que o autor fez lá? Está esperando o quê?
E ficamos por aqui por hoje! Os comentários estão abertos para dúvidas, sugestões, observações e outros. Vocês também são sempre bem-vindos em nosso servidor do discord!
E se gostam do que o MLN oferece, considerem se tornar um apoiador em nosso Apoia-se! De pouco em pouco, vamos trabalhando para melhorar ainda mais o blog!