Caçadores de Reprovações - Julho

     Mais um mês, mais uma Caçada! Se quiser conferir os Caçadores de Reprovações dos meses anteriores, você pode clicar aqui para acessar todas as postagens desse quadro.

    Lembrando que o objetivo dos Caçadores é ajudar você a escrever melhor a partir dos erros cometidos por outros feronas. Vale sempre lembrar que, ao enviar sua novel para nós, você declara estar ciente que sua novel também pode aparecer por aqui. Sem mais delongas, prepare a munição e venha comigo!

Por um mundo com elfos feios

    Começando pelo começo, percebemos um problema recorrente: a repetição de vírgulas erradas. Na maioria dos casos, a vírgula está separando o sujeito do predicado. Em outros termos, a vírgula está separando Quem Faz | O que é Feito. O predicado é responsável por trazer informações sobre o sujeito, portanto, separá-lo do sujeito é como separar a massa da coxinha do recheio da coxinha. Você vai ter duas coisas, mas elas não vão fazer muito sentido separadas. Existem algumas exceções para isso, mas não é o caso do texto aqui. 

    Na primeira frase, o autor começa com "Um velho homem, batia com voracidade em uma porta". Quem está batendo com voracidade na porta? Um velho homem. Portanto, esse é nosso sujeito — e "bater com voracidade em uma porta" é a ação que ele está realizando, sendo nosso predicado. O autor separou uma coisa da outra colocando a vírgula ali no meio das duas coisas, o que é incorreto nesse caso. O correto seria retirar essa vírgula e manter o resto da frase como está.

    Prosseguindo, as vírgulas seguintes mais atrapalham do que ajudam. Primeiro porque não havia necessidade real de introduzir o trecho "naquele quarto no segundo andar do local". Repare que, se você tirar esse trecho completo, não faz falta nenhuma no texto. O autor já está dizendo logo em seguida que se trata de uma hospedaria — eliminando a necessidade de especificar que  se trata de um quarto em um local (?) — e a ideia do segundo andar não é relevante para a cena. Se fosse no primeiro ou no quinquagésimo segundo, as coisas aconteceriam do mesmo jeito. Em vez de atrapalhar o fluxo da narração com essa informação pouco relevante, o autor poderia simplesmente incrementá-la na narrativa, como descrever o personagem descendo as escadas ou seu algoz subindo as escadas. Ficaria claro que o personagem estava em um andar superior e, com a informação da hospedaria dada anteriormente, as coisas fluiriam bem e nenhuma informação relevante seria perdida.

    Ainda falando sobre trechos em azul do primeiro parágrafo, dê uma olhada no trecho: 

ranger da madeira que ressoava no pequeno quarto

    A imagem que tínhamos anteriormente era de alguém batendo na porta com ferocidade. Quando o autor propõe gritos e um ranger que ressoa, essa imagem começa a ficar um pouco destoante a partir da segunda parte. Rangidos são ruídos mais ásperos e, quando você soma isso ao fato de eles ecoarem, socos não parecem ter a capacidade de produzir esse tipo de som. Descrever que as tábuas da porta pareciam estar começando a se partir, que a porta estava afundando a cada soco, que o som grave dos socos ecoava pelo quarto, poderiam ser alternativas melhores. Perceba como a intenção seria a mesma, mas poderia ser transmitida de maneira a conversar melhor com o restante da cena a partir da escolha de palavras ou termos diferentes. O mesmo acontece para a ideia de orelhas que surgem levemente (como isso é possível?).

    Um último ponto que gostaria de chamar a atenção é a tentativa do autor de tentar encaixar a descrição do rosto do protagonista numa descrição. No papel, essa é realmente uma boa ideia. Em vez de fazer uma lista de compras com descrições físicas, ele colocou a característica dentro da narrativa, certo? Então, mais ou menos.

 o simples entrelaçar dos dedos nos fios ruivos fazia sua cabeça latejar, mas apesar da terrível expressão de dor que surgia em seu rosto, ele tinha uma bela feição, com olhos verdes penetrantes

    Primeiro, problema clássico das vírgulas. Segundo: por alguma razão misteriosa, os socos e gritos não pareciam dar tanta dor de cabeça no protagonista quanto mexer no cabelo. Apesar de ter colocado bem a característica ruiva, a ideia de contrastar uma expressão de dor com uma bela feição de olhos verdes penetrantes não ficou tão interessante assim. 

    Eu sugeriria retirar esses detalhes daqui ou mudar o texto para fechar uma informação antes de começar outra. Eu explico: o trecho todo está falando da dor de cabeça do protagonista. Antes de falar como ele é bonito (por que não existem elfos feios em fantasia, gente?), termine de descrever as dores, o incômodo, como ele se sentia. Então, uma ideia seria colocar um ponto final e começar outra frase (ou parágrafo, dependendo da mudança no tamanho do texto) falando que seu rosto belo e seus olhos verdes penetrantes causavam admiração ou algo parecido. Primeiro, termine de falar uma coisa. Depois, comece outra.

    Se o autor não quisesse jogar isso pra depois, seria melhor repensar o uso de "uma bela feição com olhos verdes penetrantes". Poderia dizer que o que mais chamava a atenção em seu rosto belo e gentil eram os profundos olhos verdes, agora parcialmente fechados devido à dor de cabeça por exemplo. Ou que ele retirou os fios ruivos da frente do rosto e seus profundos olhos verdes brilharam, revelando um rosto gentil, mas marcado pela dor de cabeça. Já que o rosto e os olhos fazem parte essencialmente do mesmo conjunto de coisas, poderia ser interessante, nesse caso, deixá-los para a mesma descrição, sem separar feição bela | olhos penetrantes. O autor tentou fazer uma descrição que seguisse o movimento do protagonista tirar o cabelo da frente do rosto, mas poderia ter tentado fazer isso de um jeito mais orgânico —  e com menos vírgulas atrapalhando.

    O que vocês fariam para melhorar essa descrição?  Contem para mim no campo de comentários ou em nosso servidor do discord! Ficaríamos muito felizes em ouvir a sua opinião!

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