MLN Recomenda: Kamen Rider Geats

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    Imagine ter a chance de criar o mundo que você deseja. Todas as regras, todas as pessoas, toda a realidade e toda a história se ajoelharia perante ao seu desejo. Entretanto, as coisas não são tão fáceis. Para conseguir recriar o mundo ao seu bel-prazer, você precisa provar que é melhor do que aqueles que buscam o mesmo que você. Participe do Desire Grand Prix para conseguir a chance de criar a sua própria realidade. 

    No MLN Recomenda desse mês, não temos anime, mangá ou light novel. Temos uma série de tokusatsu que está praticamente em seu fim... E trouxe uma nova perspectiva não apenas para a ideia de Battle Royale, como também para toda a franquia. Tá na hora de falarmos de Kamen Rider Geats: o que pode ser um dos melhores Kamen Riders de todos os tempos.



A franquia Kamen Rider

 

    A franquia Kamen Rider é uma franquia de mangá, filmes e séries de tokusatsu criada originalmente pelo mangaká Shotaro Ishinomori. Geralmente, as mídias envolvendo Kamen Rider apresentam um herói motociclista com algum tema específico (insetos, criaturas místicas, elementos, letras gregas, cartas, instrumentos musicais, frutas, carros, magia, robótica, demônios, videogames, livros, battle royale e assim por diante) lutando contra um time de supervilões. A série começou em 1971 e, com o passar dos anos, a popularidade da série cresceu exponencialmente. Inclusive, o impacto cultural da série dos motociclistas louva-deus até mesmo resultou em uma homenagem interplanetária: o planeta menor 12408 Fujioka foi nomeado em homenagem ao ator do primeiro Kamen Rider, Hiroshi Fujioka; e o 12796 Kamenrider homenageia a própria franquia como um todo.

    Além das motocicletas, o ponto central de todos as séries da franquia Kamen Rider é o fato de que os heróis usam poderes iguais ou similares aos dos vilões para combatê-los (mesmo que as motos estejam ficando meio de lado recentemente). Desde o primeiro show, os poderes dos Riders têm ligação com as forças do mal, mas são usadas para o bem (com várias exceções), podendo inclusive ser derivações diretas de poderes malignos. Em uma definição menos robusta, eu gosto de definir Kamen Rider como "jovens armadurados lutando contra monstros e eventualmente entre si". 

    Além disso, é importante ressaltar que a franquia é dividida em Eras, demarcadas de acordo com o imperador vigente no Japão. A primeira foi a Era Showa, correspondente ao período de reinado do Imperador Shōwa, Hirohito, de 25 de dezembro de 1926 a 7 de janeiro de 1989. A Era Heisei teve início um dia depois da morte do Imperador anterior, indo de 8 de Janeiro de 1989 até à abdicação do Imperador Heisei, Akihito, em 30 de abril de 2019. E a Era atual é chamada de Era Reiwa, iniciada após a abdicação do Imperador Akihito para dar lugar ao seu filho Naruhito, o novo Imperador. Uma vez que essa é a Era atual, vale pontuar que Kamen Rider Zero One, Kamen Rider Saber, Kamen Rider Revice e Kamen Rider Geats são as séries que a englobam até o momento. Logo mais, teremos também Kamen Rider Gotchard para compor essa lista.

Contextualização feita, vamos falar de Geats.



O trunfo de Geats

    A premissa de Geats é simples. O "Desire Grand Prix" (DGP) é um battle royale com o objetivo de proteger a paz das garras dos Jyamato, inimigos misteriosos de origem e propósito desconhecido. Cada participante se transforma em um Kamen Rider e compete para vencer o jogo, acumulando pontuação ao derrotar Jyamato e salvar as pessoas. O vencedor do DGP será recompensado com o direito de construir um mundo ideal. Em outras palavras, apenas o Deza-shin, o verdadeiro herói que vencer a competição, terá o direito de reconstruir o mundo ao seu bel-prazer.

    Nesse primeiro momento, podemos perceber que o conceito de battle royale aqui em Geats é diferente. Ao invés de lutarem entre si, como já aconteceu em Kamen Rider Ryuuki, os Riders são encorajados a lutar contra outros inimigos (os Jyamato) e salvar a população indefesa. Entretanto, isso não significa que os Jyamato sejam menos letais... ou que outras adversidades não ceifem a vida de muitos Riders. Isso se reflete na apresentação dos personagens e na quase-constante mudança do elenco principal, mas precisamos pensar em outro aspecto primeiro.

    No mundo de Geats, o mundo foi feito e refeito tantas vezes que se torna impossível dizer o que é verdade e o que realmente aconteceu. O ator famoso que você conhece pode ter sido o vencedor de um DGP que desejou por um mundo em que ele fosse famoso para sempre - e você sempre se lembrará dele assim. Porque essa é a nova realidade. Essa sempre foi a realidade. 

    A temática de desejo é especialmente forte em Geats e muito da personalidade de cada personagem será refletida no que ele deseja para o seu mundo ideal. Em vez de expor a vida dos participantes de frente para trás, de cima para baixo, Geats usa uma estratégia genial: revela a maior ambição de cada um, afinal, esse é o propósito do jogo. E o que poderia falar mais sobre si mesmo do que o seu desejo mais profundo, para o qual você está arriscando sua vida para conseguir?

    Falando em personagens, você deve ter reparado que o uniforme dos Riders tem uma cabeça de animal sobre uma armadura preta. Cada Rider tem um animal que representa seu uniforme e isso também diz muito sobre quem eles são (ou podem ser). Nosso protagonista, Ace Ukiyo, é o Kamen Rider Geats, com tema de raposa. As raposas são conhecidas na mitologia por seu aspecto sagaz e manipulador: e isso não poderia falar mais sobre Ace. O nosso segundo protagonista é Keiwa Sakuragi, Kamen Rider Tycoon, com o tema de tanuki. Assim como a raposa, o tanuki também é uma criatura que está relacionada com a manipulação, mas no aspecto mais divertido, brincalhão e esperançoso. Os outros Riders têm animais como gato e búfalo, mas a relação desses animais com seus Riders eu deixo para você descobrir quando assistir a série. Afinal, nem tudo é tão claro. Algumas vezes, o tema do Rider é um retrato dele; outras vezes, é uma grande ironia para quem ele é ou virá a ser.

    Veja, portanto, que Geats se usa de metáforas visuais e narrativas para esclarecer a personalidade dos seus protagonistas. Ace é a raposa com o desejo misterioso. Keiwa é o tanuki esperançoso com um desejo tão grande quanto sua esperança. Apenas por meio do traje (a metáfora visual) e do desejo (a metáfora narrativa), você consegue entender muito do personagem sem eles precisarem dizer nada. Assim, todas as informações específicas daquele personagem, como sua história e suas motivações, já chegarão em um terreno solidificado por impressões iniciais que se provam mais ou menos verdadeiras.

    Mas eu não vou falar mais. Se você quiser entender mais sobre esse mundo-não-mundo, sobre o propósito do DGP, sobre o propósito dos Jyamato; ou se quer aprender a construir personagens baseados em temas claros, se quer uma ajuda para desenvolver dramas e mistérios em um cenário de competição, se está com dificuldade de montar um battle royale diferente ou se quer aprender a construir jogos para seus personagens dentro da sua narrativa, fica minha recomendação. Além de visuais lindos e personagens cativantes, Geats ainda entrega uma trama muito legal e lutas fantásticas.

    Vejo você no DGP.



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2 comentários

  1. Sobre as "metáforas visuais e narrativas" para revelar a personalidade dos protagonistas, me lembrou aquela ideia de que, ainda que você tenha criado um personagem vegetariano, mas em nenhum momento da história ele faz uma refeição ou não discute comer carne, então ele não é vegetariano. Pelo menos, não na história. Ele pode ser vegetariano na sua cabeça, mas se isso não é explorado na história, então não existe.

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  2. Isso é bastante verdade. De nada vale o que está apenas na sua cabeça, afinal, o leitor está lendo um livro, não seus pensamentos. Confesso que agora eu fiquei com vontade de ver um Kamen Rider com tema de leguminosas........

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